quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Desejo de mulher

Nua de paz,
tenho aperto no peito
e a cor de carmim
no lábio mordido, sem beijo.
Quero falar com você
em forma de verso, canção,
na forma de amor ou paixão...
Quero a cadência do samba
nas veias
e o arroubo do tango
em meu sexo.
Tenho o bolero na alma,
gosto de valsa na boca
e samba-canção no silêncio tristonho
e saudoso
desta inspiração
marota,
teimosa,
briguenta,
sardenta,
queimada de sol,
salgada de mar
e no poro fechado,
ardendo,
tremendo,
arrocho no escuro da sala,
amasso no canto da vida
esse amor que não vem.
É madrugada...

Rio de Janeiro, 2h30 da madrugada, juventude.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Atrevida

Preciso desabotoar seus sentimentos
e enfiar minhas emoções
nos seus caminhos,
retirar suas roupas,
fazer promessas de outros mundos
e encantar seus sonhos.
Preciso desonrar os mitos mais profundos
da sua alma,
rolar nessa vegetação espessa e estranha,
escalando o orgulho de você;
descobrir seu êxtase
e enfiar minha vida
nesse tronco sem folhas,
estremecer até o fim...
e começar de novo...
Preciso cansar minhas raízes,
fazendo-as esquecer os preconceitos
de uma vida inteira,
sentir-me pura na maldade
e beber o néctar do seu corpo.
Eu preciso!

Sílvia Mota.
Rio de Janeiro, madrugada.

sábado, 19 de dezembro de 1987

Êxtase

Escute!
Escute a quietude do meu carinho
e o sentimento estranho,
que barulhento tenta se esconder
na sua inspiração.

Escute!
Escute os poros que se dilatam
em excitação de paz...
Entre com força no meu ouvido
e abafe minha gargalhada sem sentido...

Chupe os meus sentimentos
e apanhe o seu pincel.
Pinte este silêncio meu,
um silêncio atrevido...

Venha mordiscar suavemente
o meu presente,
fazendo-me acordar
nessa tela branca.

Venha deslumbrar o meu corpo
nesse gozo de paz.
Entre com força na minha boca,
pois desejo calar nessas cores.

Quero rasgar o passado
e transformar esta paixão
em sinfonia de murmúrios...
quero murmurar...

Escute o meu silêncio
e, numa eclosão de emoções,
mergulhe as suas mãos
nos meus desejos
e pinte em mim sua virtude branca.

Pinte de verde a minha boca,
de rosa os meus seios,
pinte de azul a minh'alma
e escureça o nosso céu
neste momento de estrela...

Escute o meu silêncio vibrante,
vibrante e trêmulo...
Escute os meus pelos ouriçados
e, com os seus gemidos de luar,
esprema essa tinta no meu sexo.

Pincele a sua alma no meu corpo
e apague o meu corpo da sua alma.
Entrelace as minhas pernas
e beije os meus sentidos.
Transforme a sua boca em pincel
e deslize-a no meu corpo...

Escute!
Quero sentir na tela de você
o êxtase de mim!

Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz
Rio de Janeiro, 198[7?]

sábado, 27 de dezembro de 1986

Amor transcendental

Desejas assustar-me
com o bater estranho dessas asas...
Queres subjugar a minh'alma
e alcançar o transcendental sozinho.
Nesse momento fugaz és desarmônico
e o ar imperioso dos teus olhos
ameaça espocar na escuridão.

Preciso alcançar teu voo incauto
por um instante apenas...
Não te posso sentir oco, fútil,
a gotejar latente pavor.
Alcançarei teu brilho termântico e lascivo,
enfiarei nas tuas as minhas penas
e em libidinagem total voarei contigo
pelo Cosmos inigualável.

A estrela que persegues é minha,
o sol do qual tentas roubar um raio
é o mesmo que explode inteiro
dentro do meu peito
e essa flor despetaleada no teu bico
foi encontrada no jardim dos meus sentidos.

Desejas assustar-me
com o bater estranho dessas asas...
E essas garras? Também são tuas?
Não estavam presentes
no dia em que em lascívia total,
a mim, apertaste e abusaste.

Preciso alcançar teu voo incauto
por um instante apenas...
Esse universo inarmônico não é o mesmo
que nos ensinaram a sentir.
Tua primavera não mais faz flores,
nem teu verão o calor,
o outono esqueceu sua função
e o inverno é ardente e febril.

Equilibra tuas asas e vem alar comigo
no mesmo espaço sideral,
vem aparar as garras,
estabilizar os desequilíbrios
e suavizar os sentimentos,
para entrarmos juntos na perfeição rítmica
das estrelas e dos mundos...

Apaga essa ave arredia de ti mesmo
e cria-me ao teu lado nessa tela.
Vamos ser dois corpos
em desejo único.
Vamos ser Paz...

Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz.
Rio de Janeiro, [1986/1987?]

quarta-feira, 16 de abril de 1986

Para você que é tão especial


Para você que é tão especial, 
esperando jamais ser comparada
às margens que comprimirão suas águas...

Sílvia Mota,
Rio de Janeiro, 1986

quinta-feira, 6 de março de 1975

Eras do tempo


O sorriso da primavera seria mais bonito
se tivesse o formato da sua boca.
A alegria do verão seria eterna
se o sol brilhasse como o brilho dos seus olhos.
As folhas do outono cairiam para sempre
se pudessem eternamente cobrir a pele que recobre o seu corpo.
O choro do inverno seria menos triste
se nos invernos todos desta minha vida,
tivesse você por inteiro... e, com você, o Amor!

 Sílvia Mota
Rio de Janeiro, 6 de março de 1975

sábado, 27 de outubro de 1973

Simplicidade

Enroscar em seu amor o meu amor de paz.
ao seu lado nas nuvens,
chorar lua,
cantar estrelas,
ouvir sol,
sorrir de mar...
Beijar sorriso,
segurar palavras,
espremer sexo,
sentir divino escorrer nos dedos.
Rolar na mata vestidos de amor,
envoltos de ar.
Beijar unhas, cabelos
e as coisas mais simples
de mim e você.
Suprir sua vida de mim
e a de mim em você.
E na ânsia de amar,
enroscar em seu amor
o meu amor de paz.

Sílvia Mota.
Rio de Janeiro, 22 anos - madrugada.

sexta-feira, 27 de outubro de 1972

Espera




Espera

 
 Amor...
As palavras escorregam nos dentes,
brincam nos lábios, acariciam o queixo
e perdem-se no ar... Os pensamentos enroscam-se no cérebro,
brigam entre os cabelos
e voam sem destino.
 
Amor...
As mãos saem das luvas
e olham para si mesmas
- embora sem olhos aparentes -
e contam os dedos, um a um...
não lhes falta nada -
dedos, unhas e calos...
 
Amor...
Os pés espreguiçam-se fora dos sapatos
e param sem saberem para onde ir.
As pernas prendem-se ao tronco,
por medo de fazerem algo errado. O sexo aquieta-se,
à espera do amor que não vem...

Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz.
Rio de Janeiro, qual o dia? o ano? não sei... lembro-me tão somente da emoção...

Necessidade

Eu preciso amar,
sentir a verdade nos olhos,
na boca,
no sorriso.
Eu preciso amar,
costurar as veias rasgadas,
remendar sonhos,
bombear a vida.
Eu preciso amar,
apertar troncos,
cariciar plantas,
sugar frutos.
Eu preciso amar,
ouvir sons,
movimentar pernas e braços,
possuir-me em outro.
Eu preciso amar,
esfregar mentes,
cegar os olhos abertos,
espremer desejos.
Eu preciso amar,
converter pensamentos,
abrigar carícias,
cansar-me na espera.
Eu preciso amar,
aumentar o ritmo da vida,
suar os poros,
entregar-me toda.
Eu preciso amar!

Sílvia Mota.
Rio de Janeiro, 1h16 da madrugada de um dia que se foi.

quarta-feira, 17 de maio de 1972

Desespero

 
 
Desespero
  
Por que persistir
na espera do sorriso?
- Ele não vem!!!
Se pudesse chorar...
 
Se pudesse cuspir, neste momento,
o gosto salgado que me estraga a garganta
e apertar os olhos, castigando-os,
porque não viram a realidade!
 
Se pudesse estourar os tímpanos,
que aguardam palavras de amor
e amputar os braços morenos,
que esperam o abraço branco!
 
Se pudesse chorar, neste momento,
o gosto salgado que me estraga a garganta
e chutar os pensamentos trementes,
que marcam meu lábio de sangue!
 
Se pudesse quebrar os dentes,
cair na rua que me atrai
e permitir sem dor ou arrependimento,
que a vida passasse por cima de mim!...
 
Se pudesse esmagar o corpo inútil,
que arde todo num desejo puro...
Ah! Se pudesse esmagar o corpo inútil,
que arde todo num desejo puro!...
 
Talvez, não vejas a flor despetalar
naturalmente...
Talvez, caia antes da haste,
estupidamente!
Talvez, perca o perfume,
inexplicavelmente!
Talvez, caia da haste,
antecipadamente...
 
Há um medo de ver a morte
no momento errado...
A flor está negra
- assustada -
deixou de enfeitar-se, fechou-se,
exala um perfume amargo!...
Há um medo de ver a morte
mo momento errado...
 
Mas, por que persistir
na espera do sorriso?
- Ele não vem!!!
Se pudesse chorar...
 
Talvez, não vejas a flor
despetalar naturalmente...
 
 
Sílvia Mota a Poeta e Escritora do Amor e da Paz
Rio de Janeiro, 2:15hs da madrugada, do dia 26 de julho, de um ano qualquer.