domingo, 17 de maio de 1970

A uma criança



Escrevi "A uma criança...", aos 16 anos de idade, dias antes da morte do meu irmãozinho Salvador Augusto. Aliás, aguardava sua morte... tão prematura, aos 11 anos de idade, vítima de agressivo câncer. Para acompanhar a leitura, a música preferida: "Última canção", de Paulo Sérgio, que meu irmãozinho escutava em seu pequenino rádio de pilha.
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Desejaria mirar as paisagens no horizonte,
bem além que o próprio além,
tendo os olhos cheios de perguntas,
encontrando-me nas respostas!...


Olhar a praia imensa,
branca... tão branca, como tela virgem,
onde alguém rabiscou, com maestria,
as ondas grandes, o céu, coqueiros,
jangadas e até barquinhos de papel!


Pular maré com ilusões,
fugir da horrível saudade,
brincar de esconde-esconde com o amor...


Passar de estrela em estrela,
vestir-me de lua,
procurar no céu escuro
um sonho meu, que fugiu durante o dia,
nas asas brancas, prateadas,
do passarinho ilusão!


Olhar o mar, cantar estrelas,
brincar de amor, sorrir sonhar...
Mas, não com esta minh'alma hoje consciente,
da inocência dos seus olhos de criança...
Olhos cheios de perguntas,
mas vazios de respostas!...

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Sílvia Mota
Menina de Piquete, há muito tempo...

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